28 de junho de 2023
O inverno chegou na última semana e com o início do período mais frio é preciso ficar atento às doenças que podem aparecer: resfriado, gripe, rinite, sinusite, amigdalite, bronquite, entre outras. São diversos os problemas comuns nesta época e, com o intuito de reforçar as orientações, o médico otorrinolaringologista e diretor do Corpo Clínico do Hospital Beneficente Santa Terezinha, Dr. João Augusto Polesi Bergamaschi, aborda abaixo as principais doenças e as formas de prevenção.
Período do inverno
De julho a setembro, temos um aumento considerável das inflamações e infecções das vias aéreas: nariz, garganta, ouvidos e pulmões.
Embora todas essas doenças do inverno sejam agrupadas nas famosas “ites”, é importante diferenciarmos o que seriam as inflamações e as infecções das vias respiratórias.
Muito mais comuns, as inflamações compreendem basicamente as rinites e as bronquites e são causadas na, grande maioria dos casos, por quadros de alergia, mudança de temperatura e umidade e pela exposição a fatores que irritam as vias aéreas, como mofo, ácaros, poeira.
O tempo frio e mais seco diminui a defesa natural do nariz (alterando o muco e movimento de limpeza das células que protegem a nossa via respiratória), além de dificultarem a dispersão dos poluentes do ar, concentrando o pó, a fumaça e outros alérgenos respiratórios.
A tão falada rinite é a cara do inverno. Congestão nasal, coriza (“água que escorre do nariz”), espirro, coceira nos olhos, no nariz e na garganta, o pigarro e a tosse são as queixas mais comuns nos nossos consultórios durante essa época.
O tempo muda, o frio chega após uns dias de calor; a pessoa pega uma chuva ou pega um frio sem a proteção adequada; a família decidiu tirar as cobertas de inverno do armário e se esqueceu de arejar ou colocar no sol antes de usar: essas situações cotidianas, que todo mundo passa, são muito comuns e desencadeiam esses sintomas citado acima.
É fundamental destacar que um quadro de rinite ou bronquite são quadros na maioria leves, que atrapalham o rendimento no trabalho, o sono, a atividade física, mas não nos deixam de cama ou não nos impedem de trabalhar ou estudar. Ou seja, não causam febre, dor no corpo, dor de garganta intensa, e fraqueza ou mal-estar que debilitam.
Se isso ocorre, é provável estarmos frente ao outro grupo das “ites” de inverno, as infecções das vias aéreas, os resfriados e as gripes e as suas complicações – em geral, as sinusites, faringites, laringites, amigdalites, otites e pneumonias.
Resfriados e gripes
Os resfriados e as gripes são os quadros infecciosos mais comuns das vias aéreas no inverno. Compreendem de 80-90% do total dessas infecções, e além dos sintomas da rinite ou bronquite, esses são os quadros nos causam a sensação de estarmos literalmente doentes, ou seja, além da congestão nasal, espirros, coriza, leve dor de cabeça, irritação na garganta, tosse, passamos a apresentar sensação de cabeça pesada, dor de garganta intensa, cansaço, dor no corpo e muitas vezes febre, este sim, o principal sinal de um quadro infeccioso.
Um quadro leve, febre baixa ou ausente, sintomas de dor de garganta, obstrução nasal e dor de cabeça controlados facilmente com analgésicos simples, lavagem e spray nasal ou descongestionantes, provavelmente estamos frente ao resfriado. Nesse grupo, as famosas faringites, laringites e as rinossinusites leves, tanto em adultos como em crianças, e as otites, especialmente nas crianças.
Já um quadro mais intenso, com sintomas de fraqueza e mal-estar no corpo, enjoo, dor de cabeça e dor de garganta forte, tosse seca ou produtiva e febre, muitas vezes alta e sustentada por 2-4 dias, provavelmente estamos frente a quadro de gripe. Para melhora do quadro, geralmente necessitamos repouso, medicamentos sintomáticos mais continuamente, hidratação, afastamento das atividades por alguns dias e observação com avaliação médica para se evitarem complicações. Se o quadro não evoluiu bem em cerca de 4-5 dias desde o seu início, complicações como rinossinusites bacterianas e pneumonia em adultos, além de otites e adenoidites em crianças podem ocorrer.
Covid e influenza
A pandemia (COVID-19) trouxe uma síndrome gripal inédita na maior parte do mundo, causada pelo Coronavírus, mas é muito importante destacar que a gripe mais comum desde muitos séculos, que nos afeta anualmente e que está em alta em 2023 é a causada pelos vírus Influenza A (a famosa gripe A) e pelo vírus Influenza B – muito por conta também do baixo índice de vacinação de adultos e crianças.
Amigdalite e sinusite
Para completar, vale destacar duas afecções muito comuns no inverno e muito auto-diagnosticadas, ou seja, os pacientes já chegam no consultório dizendo. “Dr, estou com amigdalite”, ou então, “estou com sinusite”.
É muito importante destacar isso por alguns motivos. Primeiro, dor de garganta não é sinônimo de amigdalite, assim como congestão nasal e secreção não são sinônimos de sinusite. Segundo, o uso indiscriminado e sem critérios de antibióticos (também por culpa dos médicos) prejudica a saúde das pessoas e está criando bactérias cada vez mais resistentes, ou seja, antibióticos clássicos e muito eficazes, como a amoxicilina, podem começar a não curar mais infecções simples e as infecções mais severas serem controladas apenas em ambiente hospitalar.
Algumas considerações sobre essas duas entidades, muito frequentes no inverno:
A amigdalite bacteriana propriamente dita, compreende apenas 10-20% de todas as dores de garganta de origem infecciosa. Ela é rara em crianças menores de 3 anos e em adultos acima dos 35-40 anos e idosos – amigdalite é infecção de criança em idade escolar, adolescentes e adulto jovem.
Ela é um quadro de instalação rápida (horas), geralmente com febre alta, amígdalas muito inchadas, vermelhas e com placas grandes, ínguas no pescoço, e na maioria das vezes não há sintomas de espirros, coriza ou tosse precedendo ou junto ao quadro. Resumindo, costumamos dizer ao paciente que amigdalite bacteriana é febre alta e dor de garganta, sem sintomas de resfriado ou gripe.
Para esses casos, sim, antibióticos são necessários e melhoram, ao contrário dos casos de uma leve dor de garganta há 2-3 dias, com coriza, leve dor de cabeça e congestão nasal, característicos de resfriado, cujo tratamento com lavagem nasal, analgésicos e descongestionantes, hidratação e repouso leve, são a escolha.
Já a sinusite bacteriana, que parece tão comum, compreende apenas 10-20% dos quadros de congestão nasal, pressão na face e secreção nasal (80-90% dos quadros são um resfriado mais forte, digamos assim). Ela não é uma doença de criança ou adolescentes mais jovens (esses ainda nem tem os seios da face formados), é uma doença de jovens acima dos 16-18 anos de idade e adultos. E um ponto muito importante. Ao contrário da amigdalite, ela não é rápida, não evoluiu em horas – a pessoa não dorme bem e acorda com sinusite. Ela evoluiu ao longo de dias, 5-7 dias, como um resfriado ou gripe mal curados ou mal conduzidos. É aquele quadro da pessoa que estava com sintomas leves de coriza, congestão nasal e ao longo da semana vai piorando com mais catarro, mais tosse, aumento da quantidade e piora do aspecto da secreção (amarelada, consistente), dor na face, mais de um lado, cabeça pesada e que a boa lavagem nasal, analgésicos e descongestionantes já não resolvem o problema.
Resumindo, a sinusite é uma evolução de um resfriado ou gripe que parecia ir melhorando, mas que após 5-7 dias, piora os sintomas, principalmente pressão na face e o catarro nasal.
Novamente, para esses casos os antibióticos podem ser necessários para uma melhora mais rápida dos sintomas.
Diferença entre crianças e adultos
Como todos percebemos, há sim uma grande diferença entre crianças e adultos no contexto dessas afecções do inverno.
Primeiramente, é importante lembrar que a criança atinge a maturidade imunológica apenas aos 12 anos, que é quando os episódios de gripe, resfriado e as alergias começam a ser comparáveis aos adultos.
Em relação a resfriados e gripes, especialmente nos primeiros 4 anos de idade, a criança pode apresentar de 7-10 episódios de infecções das vias respiratórias, sendo estes muito mais concentrados na estação de frio (de maio a setembro).
Isso se deve ao fato de que a criança, principalmente ao frequentar creche ou escola, começa a ter contato com outros vírus e bactérias que são desconhecidos ao seu sistema imunológico, sendo que, não havendo uma defesa pronta através dos anticorpos, a grande maioria desses microorganismos acabam infectando a criança e causando os resfriados e gripes.
Também em relação aos quadros alérgicos e inflamatórios, o sistema imunológico, ainda imaturo das crianças, reage com mais responsividade e menos tolerância aos gatilhos, ou seja, mudança de temperatura, poeira, ácaros tendem a causar crises de tosse e chiado no peito, espirros, coriza e obstrução nasal mais intensas e frequentes do que em adultos.
Prevenção
Antes de falarmos sobre os cuidados preventivos usuais e diários para se diminuírem a ocorrência de quadros alérgicos e infecciosos, é fundamental reforçar 4 pontos.
A prevenção começa ainda ao nascer: o aleitamento materno até 1 ano, preferencialmente exclusivo até os 6 meses de idade, é fundamental para o desenvolvimento da imunidade da criança, tanto para os quadros infecciosos (através dos anticorpos transmitidos pelo leite), como pela diminuição da ocorrência de hiper-reatividade e alergias na infância.
A introdução de alimentos saudáveis a partir dos 6 meses, como frutas, verduras, preferencialmente in natura e frescos e o contato com o meio externo (grama, terra, etc) são muito importantes. Vitaminas C, D e A, zinco, ferro, ácidos graxos e fibras são os principais protagonistas do sistema imunológico.
A vacinação é o principal vetor de imunidade na infância. Depois que a criança é vacinada, o organismo desenvolve seus próprios anticorpos, que serão carregados ao longo da vida. Em relação à prevenção da gripe, a vacina, que deve ser atualizada anualmente, previne contra os 4 tipos de influenza, evitando então episódios mais graves e que podem trazer complicações (otites e pneumonia, por exemplo).
E o quarto ponto é em relação a uma das principais ameaças à imunidade na infância: o uso indiscriminado de antibióticos. O uso de antibióticos altera a microbiota intestinal, sendo que esses microrganismos, que colonizam nosso intestino, são fundamentais para a defesa do corpo, produção de hormônios, neurotransmissores e regulação da imunidade.
Dito isto, medidas do dia-a-dia que podemos lançar mão para prevenção, tanto da ocorrência de alergias e infecções, como de suas complicações, são:
- Lavagem nasal com soro fisiológico 0,9% - o hábito da limpeza nasal, 1-2 vezes ao dia, especialmente na hora do banho, remove da mucosa nasal os poluentes, ácaros, e pequenas quantidades de vírus que tivemos contato durante o dia, além de reestabelecer um muco mais saudável ao nariz, diminuindo a chance de resfriado e de crises alérgica;
- Se a criança ou adulto com histórico de alergias, além da lavagem nasal, o uso de antialérgicos (comprimidos e xarope), spray nasal ou “bombinha no pulmão” podem ser muito úteis para diminuir o número e a intensidade das crises de rinite ou asma, por exemplo;
- Arejar ambientes, mantendo ventilação e entrada de luz solar – tal medida dispersa vírus e poluentes do ar, além de diminuir o crescimento de mofo em lugares de maior umidade;
- Na suspeita de uma gripe ou na ocorrência de febre com sintomas de nariz e garganta, evite ficar em ambiente fechado e sem ventilação com outras pessoas. No caso das crianças, se possível, mantenha a criança em casa, fora da creche ou da escola até 24 horas após a cessação da febre, quando a transmissão já diminui consideravelmente;
- Para evitar as complicações, sinusites, otites ou pneumonias, é importante estar atento à evolução do quadro simples de resfriado ou gripe: se houver febre alta ou mantida, muito mal-estar, aumento progressivo da tosse, secreção, dor de cabeça e congestão nasal, e duração do quadro além de 4-5 dias, é importante buscar auxílio médico;
- No caso das crianças pequenas, um quadro de resfriado com recusa ao ofertar alimentos, mudança no padrão do sono ou muito choro ao dormir, piora da tosse e secreção, febre alta ou mantida, também podem ser indícios de uma evolução do quadro e uma avaliação médica torna-se fundamental;
Por fim, o inverno traz mudanças de temperatura e umidade, com crises de rinite, resfriados ou gripes mais leves ou mais fortes, dependendo, como dito anteriormente, do nosso estado de saúde e das nossas medidas de prevenção.
Costumo reforçar, portanto, que manter hábitos saudáveis de alimentação, sono reparador, atividade física regular, higiene nasal com soro fisiológico e vacinação em dia são medidas que nos farão enfrentar a estação das “ites” com menos sustos e com mais saúde.
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