02 de dezembro de 2022
Com o objetivo de humanizar e acolher crianças que realizam procedimentos no bloco cirúrgico, o médico anestesista do Hospital Beneficente Santa Terezinha de Encantado (HBST), Brunno P. Batalha, idealizou uma iniciativa que transforma a sala de cirurgia em um ambiente lúdico e tranquilizador para os pequenos e os seus pais.
"Em São Paulo, eu não atendia pediatria e quando cheguei aqui, em maio de 2021, essa foi umas das minhas atividades principais. Logo percebi que teríamos que adaptar o ambiente, pois as crianças entravam muito assustadas, por estarem em um local diferente com pessoas estranhas, ou até devido a outras experiências", conta Brunno.
E o que era um desafio para muitas famílias e equipe se transformou em uma brincadeira. Agora, os pequenos entram no bloco cirúrgico vestidos de super-heróis, ao lado da mãe ou do pai. Eles são recebidos pelas fadas encantadas que os levam até a sala mágica. Lá tem música, varinha mágica que muda as cores das luzes piscantes e coloridas projetadas no local, máscara anestésica com cheirinho especial de frutas e, ainda, um presente especial: adesivos e a "Estrela da Coragem". Todo o ambiente é acompanhado de muita fantasia e acolhimento.
A iniciativa era pensada há mais tempo, conforme destaca o diretor do Corpo Clínico do HBST e médico otorrinolaringologista, João Augusto Polesi Bergamaschi, mas foi com a chegada do anestesista que ela foi efetivamente consolidada. "Há alguns anos tentávamos algo um pouco mais lúdico para que esse momento não fosse traumático à criança e angustiante aos pais. Mas foi com a chegada do Brunno e a nossa parceria das manhãs de quartas e sextas-feiras com as inúmeras cirurgias em crianças, desde os 7 ou 8 meses de vida, que essa ideia foi consolidada", diz Bergamaschi.
A preparação do ambiente
Para que o trabalho tenha um retorno positivo, ele começa ainda na preparação do ambiente com uma conversa no consultório. "Durante a consulta médica ou o preparo pré-operatório, a criança precisa sorrir, ela precisa fantasiar a situação e, fundamentalmente, ela precisa, na sua ainda ingênua compreensão, fazer parte do processo do exame físico e até do medicamento que deve receber. Desse modo, mesmo sem entender o que se está passando, ela colabora e alegra-se com a situação que se apresenta a ela, como, por exemplo, o ato de tomar um xarope pré-anestesia e inalar um gás que irá fazê-la dormir. Tudo faz parte da brincadeira", destaca Bergamaschi.
Assim é possível construir vínculos e memórias positivas deste momento nas crianças. "Busco conhecer a criança e a família antes da cirurgia para tentar criar um vínculo. Converso com eles e explico como funcionará e que teremos essa parte lúdica. Vamos criando uma curiosidade nas crianças e, quando chega o dia da cirurgia, muitas esquecem que estão em um hospital. Tem sido muito gratificante o retorno do nosso trabalho. Em 99% das vezes, as crianças acabam cooperando. Mesmo atuando nos bastidores, recebo cartinha de criança, presentes, mensagem de carinho. Há pais que nos procuram, pois souberam da experiência de outras famílias", enaltece Brunno.
Bergamaschi também chama atenção para a aceitação dos pais. "As crianças acordam da anestesia e lembram o que foi bom, e os pais não mais se recordam de ter que segurar o filho até que a anestesia comece a fazê-lo adormecer. Tem sido muito gratificante o agradecimento dos pais para com o cuidado que temos com as crianças nesse momento e, melhor ainda, é o relato de como é essa experiência. Para mim, como cirurgião, tem sido também muito positivo, pois muitos pais de outras cidades, ao ouvirem os relatos de outros pais sobre a experiência que tiveram, acabam por nos procurar e também desejam que a cirurgia de seus filhos seja realizada no HBST", enfatiza.
“Conversar com o tio Brunno e as fadinhas”
Maqueli Lesseux Paloski (35 anos), mãe do pequeno Miguel Paloski (4 anos), que esteve com ele no mês de setembro realizando pela segunda vez um procedimento no HBST, e pela primeira vez vivenciou a experiência do ambiente pediátrico lúdico, reconhece a relevância da iniciativa na construção das memórias do filho, que é paciente de Bergamaschi. "Com 1 ano e meio tínhamos feito um procedimento, mas o Miguel era muito pequeno e não entendia muito. Desta vez, eu estava mais nervosa, pois ele está maior. Mas o ambiente deixou nós dois tranquilos", diz. "Quando as enfermeiras chegaram vestidas de fadinhas e elas falaram que o levariam para um lugar encantado, o Miguel não pensou duas vezes para ir com elas. Hoje, quando a gente pergunta o que ele foi fazer no Hospital, ele diz que foi dormir e conversar com o tio Brunno e as fadinhas".
A médica otorrinolaringologista, Giliane Gianisella Maboni, que também atua no atendimento de crianças do Hospital, salienta ainda a importância de ambientes encorajadores para os pequenos. "A humanização no atendimento pediátrico é uma realidade e os benefícios são inúmeros, como os estudos e a prática destas ações têm demonstrado. As estratégias lúdicas tornam mais divertido e carinhoso o processo, muitas vezes estressante para os pais e a para a própria criança, até o procedimento cirúrgico”, comenta. “Visualizar um ambiente acolhedor com músicas, fantasias, capas de super-heróis, além de trazer referências do cotidiano da criança, aumentam a qualidade do cuidado médico, especialmente no que tange à segurança do paciente, redução do medo e da ansiedade, satisfação dos pais e até mesmo da equipe médica e de enfermagem envolvidos. Encorajar nossas crianças a serem protagonistas do seu cuidado em saúde e sua participação ativa é uma realidade".
A equipe que atua no trabalho é composta pelos médicos (cirurgião e o anestesista), uma instrumentadora cirúrgica e duas profissionais da enfermagem. Além do ambiente lúdico, a importância da participação da família é fundamental para o sucesso da iniciativa. A mãe ou o pai acompanha a criança na sala de cirurgia até ela ser anestesiada e, após a cirurgia, fica junto dela na sala de recuperação até acordar e ir para o quarto. “Com o bloco cirúrgico novo do HBST, e um espaço mais exclusivo para as crianças, será possível deixar esse momento ainda mais lúdico, humanizado e confortante aos pais e aos pequenos”, projeta Bergamaschi.
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